17.12.10
E...
Ele era tão bonito, bem do jeito que ela sempre quis. Pele mais clara que o normal, realmente muito branco, com detalhes meio rosados, traços delicados mas sem deixar que a masculinidade escape, cabelo meio atrapalhado no rosto, olhos de cor indecifrável, uma bela mistura de cores como em uma daquelas roletas que quando se gira rápido fica branco(mas ela parada). Aquele ar de fracasso que pra ela é somente um charme desses que dão mais intensidade aos detalhes pessoal de um homem e sua personalidade. Sempre com um nó mal feito da gravata, paletó aberto, um belo sapato preto combinando com o cinto, relógio no braço direito e sempre com um perfume natural que diferencia o cheirinho dele com o de outras pessoas. Toda vez ele passa rapidamente com um livro debaixo do braço, cumprimenta a todos com um sorriso espontâneo que faz com que cada cumprimentado se sinta único, apesar de em um ambiente estranho ele andar sempre de cabeça baixa e pensativo. Pensativo, essa é uma característica muito única dele, apesar de parecer extrovertido ele é bastante voltado às reflexões pessoais e faz isso sem perceber. Quando vê-se sozinho ele se senta, posiciona a mão de encontro à testa onde inicia os cabelos, olha fixamente para baixo, com a outra mão ele afrouxa mais a gravata, mexe nos cabelos e põe-se a pensar. Diferente dos outros homens, ele é bem preocupado com todas as coisas e sabe que isso o mata por dentro e que não vai mais suportar. Praticamente sozinho ele agüenta todas as barras que a vida lhe impõe, acompanhado somente da sua maior inimiga e companheira: a consciência. Muito inteligente, talvez até, um gênio incompreendido e sem reconhecimento, tudo que lhe perguntam ele sabe explicar como fazer, a origem e soluções para aquilo no entanto ele se contentou em formar apenas em uma matéria e daí lecionar sobre ela. O único professor daquela instituição a tratar os alunos a mesma altura, sem diferenciá-los por serem adjetivados como alunos. Geralmente ela se atrasava como desculpa para esbarrar com ele na saída, até porque aquele namorico colegial que ela mantinha pra esquecer seu amor platônico por ele, não estava mais em condições de continuar e a guerra familiar a deixava cada vez mais afastada de casa. Em um desses dias que depois de esbarrar com ele pelo corredor, ela continuava pela escola vagando até um horário melhor de chegar em casa, ela o esperou. Na mesma virada do corredor, encostada na mesma parede ao lado da mesma porta. Ele não apareceu. Mas só tinha esse caminho para que ele saísse. Teria se distraído? Mas como se distrairia se a única distração era a que passaria por ali em instantes? Deu leves passos, ele havia dado aula parar ela mais cedo e por sinal, estava especialmente bonito hoje pois a gravata realçava a cor indecifrável de seus olhos. O desespero batia dentro dela, frio na barriga, angústia. Tudo aquilo que se sente na espera de quem se ama, sentiu vontade de correr e gritar por ele mas se conteve. Deu passos mais fortes dessa vez, foi, procurou na sala dos professores, nos banheiros, estava no primeiro andar, lembrou-se de que o corredor em que sempre o esperava, ficava de frente pra sala dos professores e que ao lado dessa, havia uma escada que ele poderia ter subido. Mas porque subiria e como ela não teria visto? Será que ele ficou nas salas lá em cima e não desceu? Com certeza devia ser isso, a cada degrau que ela subia o nervosismo aumentava, olhou quase todas as salas incessantemente, aquela era uma das últimas. Desistiria, estava cansada mas o desespero foi maior. Abriu a porta lentamente e lá estava ele, caído no chão e até assim ele ficava muito bonito. Ela reparou em cada detalhe de seu rosto enquanto ele permanecia ali. Precisava de ajuda com certeza mas agora estava tão frágil, tão dela. O que teria acontecido? Na verdade, não importa, ela sentiu alivio por tê-lo encontrado mas ainda sim uma explosão de sentimentos acontecia dentro dela. Parecia desumano deixar ele desmaiado ali sem nada fazer. O que Deus pensaria se a estivesse observando? O que as pessoas pensariam? Se forçou a ficar desesperada mas não conseguia, se sentia cada vez mais apaixonada ao vê-lo tão sem pressa. Ajoelhou ao seu lado, pegou em sua mão, até a mão dele era bonita. Muito bonita toda branquinha, dedos bem desenhados com as articulações rosadas, unha roída e algumas veias em alto relevo que seguem pelo braço. Acariciou, olhou seu rosto meio tombado para o lado e seus cabelos lisos, meio atrapalhados sobre a testa. Curvou-se até perto do rosto dele, chamou seu nome bem baixinho perto de sua orelha. Ele não atendeu, nem deu sinal de vida. Roçou o rosto no rosto dele, olhou fixamente seus lábios vermelhos e quis beijá-los mas e se ele acordasse? O que pensaria? Ela desejava que ele não acordasse, não pelo menos enquanto ela desfrutava de aproximações impossíveis no quotidiano. Apertou a mão dele, o chamou em tom mais alto mas ele não acordou. Agora sim ela estava se preocupando e a medida que a preocupação crescia, crescia junto a vontade de agarrá-lo. Soltou a mão dele, correu até a porta e verificou que não havia ninguém e fechou. Voltou até ele, o sacudiu e chamou sem obter sucesso. Segurou seu rosto com as duas mãos e beijou sua boca incrivelmente vermelha, queria que ele reagisse mas isso não aconteceu. Olhou sua gravata afrouxada, sua camisa social branca, desceu os olhos ao cinto, a calça e depois às botas. Sentou-se, esticou as pernas e colocou a cabeça dele cuidadosamente em cima de suas coxas, afogava as mãos em seus cabelos e começou a cantar uma música que escutara dias antes, em que se dizia: "Meu amor um dia você irá morrer mas eu vou estar logo atrás, eu vou seguir você até a escuridão.Não haverá luzes que cegam nem túneis para portões brancos só nossas mãos apertando-se fortemente, esperando pela sugestão de uma faísca." Olhou em volta, deu-se conta de toda aquela situação, beijou-lhe mais uma vez a boca e começou a gritar seu nome após isso. Deitou sobre seu tórax para ouvir os batimentos, segurou-lhe o pulso e sentiu o batimento bem fraco. Perguntou-se o que havia acontecido, passou a mão dentre os cabelos e se desesperou. Não sabia se o agarrava de encontro a ela de forma que jamais o soltaria ou se ia atrás de ajuda. Viu o celular dele sobre a mesa e rapidamente o pegou, olhou a lista de contatos e...
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